sábado, 24 de setembro de 2005

Ueze Zahran: Petrobras não quer investir no Centro-Oeste

Gilmar Hernandes

O empresário Ueze Elias Zahran, diretor-presidente da Copagaz, disse, em entrevista exclusiva ao Midiamax, que a Petrobras não tem interesse em investir nos Estados da Região Centro-Oeste. Ele aponta a total falta de atenção da estatal em investir no Centro-Oeste, especialmente no Estado que pleiteia há anos a instalação da separadora de gás no município de Corumbá.

Zahran destaca que a Petrobras tem projeto de investir US$ 56 bilhões até 2009, mas reluta em investir no Centro-Oeste que tem disponibilidade de derivados do petróleo. Para o empresário, o descaso da estatal com a região acarreta no encarecimento do GLP (Gás Liquefeito do Petróleo) ao consumidor, já que o País importa grande parte do produto e a instalação da separadora de gás em Corumbá geraria uma economia de US$ 300 milhões para a produção de 500 mil toneladas de gás de cozinha, o suficiente para abastecer o consumo de Mato Grosso do Sul e dos outros Estados do Centro-Oeste.

Ele ressalta que o benefício com a instalação da separadora em Corumbá seria total, tanto para o País, que ainda importa gás de cozinha, quanto para os consumidores, que seriam beneficiados com o valor final do produto. O empresário fala com propriedade sobre assunto, afinal é dono da Copagaz, empresa originária de Campo Grande e que tem participação de 8% no mercado nacional, atuando em 19 Estados.

O empresário, que acaba de receber prêmios das revistas Exame Você S/A e ISTOÉ Dinheiro, também criticou a atual taxa de juros, considerada uma das maiores do mundo, impossibilitando o crescimento do País. Zahran disse que os escândalos sucessivos no governo Lula mancham a imagem do Brasil no exterior e desanima novos investimentos. “Eu acho que as pesquisas estão mostrando o que o povo sente. O Lula tem hoje metade dos eleitores que tinha no início do governo”, destaca.

Nos últimos três anos, a Copagaz recebeu mais de dez prêmios nacionais pela atuação do grupo. Os mais recentes são os oferecidos pelas revistas Exame Você S/A (150 melhores empresas para você trabalhar) e ISTOÉ Dinheiro (terceiro lugar entre as cinco melhores empresas do setor de óleo & gás). O que representa esses prêmios, visto que um ouviu os funcionários e o outro a classe empresarial?
É sempre uma satisfação, pois estamos trabalhando há 10 anos voltados para essa área sem pretensão de ser premiados em todos os setores que ela atua. De repente a gente é agraciado pelo prêmio com petróleo e gás em terceiro lugar e também nos últimos anos como a melhor empresa de se trabalhar.

Muitos dos prêmios que a empresa vem alcançando está relacionado ao pessoal, preocupação com o meio ambiente e ao sucesso nos negócios. Foi com esse intuito que nasceu a Fundação Ueze Elias Zahran?
A Fundação completou o nosso trabalho nosso e principalmente a inclusão social a gente não pode deixar de participar. O empresariado no Brasil voltado para essa área ainda é pequeno, mas com o tempo tende a crescer.

Qual a importância do trabalho social para uma empresa?
É uma satisfação participar do atendimento social num País tão carente quanto o Brasil. Estamos trabalhando com recursos próprios e estes estão faltando para as empresas. O ideal seria a criação de empregos ao invés do atendimento social. Cheguei a ter quatro mil funcionários, hoje, temos dois mil. No tempo da soja, da indústria de macarrão e outras empresas que foram nossas continuam produzindo riquezas e gerando empregos. Mas o ideal é a criação de emprego.

A que o senhor atribui a redução de empregos?
Quando eu falo em redução de empregos eu digo das empresas que tive, como as quatro indústrias de soja e precisei vendê-las devido a toda uma política econômica errada. Montei e acabei vendendo depois de seis ou oito anos. Mas hoje elas estão aí na mão de terceiros gerando emprego e riquezas. Na ocasião que eu montei as indústrias de soja, a produção do grão no País era de 18 milhões de toneladas e passou a ser pouco pela pretensão de muitas empresas esmagadoras do País. Hoje, o Brasil está produzindo bem acima de 18 milhões de toneladas. As empresas que tive geraram dois mil empregos. O ideal é o empresariado criar emprego, sendo bons empregos, ambiente de trabalho e com isso você melhora a riqueza do País.

Há 50 anos, quando deu início com a instalação de uma pequena distribuidora de gás, o senhor esperava conquistar o espaço que tem hoje?

Modéstia parte, como um humilde empreendedor, pretendia crescer e chegar onde estou. Sempre pretendi crescer e consegui crescer. Hoje, a Copagaz, das cinco empresas de distribuição de gás, antigamente era 21 empresas e hoje são cinco somente. Dessas cinco é uma das duas únicas brasileiras. Brasileira com orgulho saindo daí de Campo Grande, sem recursos, trabalhando muito e enfrentando grandes multinacionais que desapareceram do mercado. Além de grandes empresas. Com atendimento social com orgulho ou talvez tristeza – mais tristeza do que orgulho – saber que é a única, nessa área de GLP [Gás Liquefeito do Petróleo] que trabalha no social.

Esse reconhecimento do trabalho a que é atribuído?

Todo o trabalho contínuo ao longo dos anos, que vem contribuindo sistematicamente aos funcionários – que são bem beneficiados graças a Deus, pois existem condições de trabalho. Quando começamos a fazer isso, há muito tempo atrás, não tínhamos pretensão de ganhar prêmio. Cinco institutos de pesquisa internacionais vieram para o Brasil e antes ninguém conhecia. E agora, o fabuloso é que induz a outras empresas a fazer o mesmo e isso só tende a beneficiar a população empregadora.

Qual é a participação da Copagaz no cenário nacional?
Ela [Copagaz] tem participação de 8%.

Quanto à empresa comercializou no ano passado?
Quase 500 mil toneladas no ano passado, o equivalente a aproximadamente 40 milhões de botijões de 13 quilos. 500 mil toneladas representam metade do que toda a Argentina consome em um ano, com 15 engarrafadoras.

Isso representa um faturamento anual de quanto?

Eu não gosto de dar faturamento.

Quais os planos de expansão do grupo para os próximos anos?

O grupo continua em expansão, atendendo quase 20 Estados no País. A presença do gás natural absorveu 700 mil toneladas de GLP. Já estava previsto que isso ia acontecer. Em paises tropicais o gás natural não funciona. É utilizado na calefação da casa, para manter o homem vivo em países frios. Perdemos 700 mil toneladas para gás natural no País para as indústrias que operam muito com o produto. E as indústrias que estavam ao lado dos canos grandes fizeram ramais e estão absorvendo o gás natural. Assustados com a posição da Bolívia, que é uma incógnita, apesar da Bolívia não deixar de fornecer para o Brasil, pois ela não tem para quem vender. Só o Brasil que colocou um cano de lá até aqui. Se ela não vender para o Brasil não tem para quem vender.

Qual a sua avaliação da instalação do Pólo Gás-químico e o mínero-siderúrgico em Corumbá?
Lamentavelmente a Petrobras, que é uma grande empresa que tem a idade da nossa empresa, vemos ela investir em toda parte, em todo o litoral brasileiro, mas nunca entrou no coração do País, com exceção de Minas Gerais, onde ela montou uma refinaria e para isso teve que fazer um oleoduto para levar o petróleo até ela, pois não tem petróleo naquela região. Vemos a Petrobras furar na Amazônia, descobrir poço de gás e petróleo, mas não tem como retirar de lá, porque precisa de grande investimento. A gente vê a Petrobras investir nas águas profundas do litoral do Brasil, investir no exterior, agora ela vai investir no Golfo do México. Tem um projeto até 2009 de investir US$ 56 bilhões em diversas atividades, sempre no litoral, nas águas profundas e o Centro-Oeste que tem a possibilidade de ter derivados do Petróleo produzido lá, através do gás químico, não investe. E o Centro-Oeste não é uma floresta amazônica que só tem árvores e ela [Petrobras] não investe. O Centro-Oeste são cinco Estados mediterrâneos, onde está 10% da população. Com grandes produtores como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Brasília e ela não investe em nada. São quase 18 milhões de brasileiros que utilizando o gás e lamentavelmente todos os derivados do petróleo que essa população usa está carregada de fretes, com refinarias mantidas no litoral.

A ativação da separadora de gás em Corumbá vai contribuir para a redução no preço do GLP?
Claro, pois vai ser produzido no local. O gás que a região de Mato Grosso consome talvez esteja vindo de Baia Blanca na Argentina, que recebe o gás da terra do fogo distante 3 mil quilômetros. Recebe em gasoduto, uma separadora grande produz 600 mil toneladas de GLP por ano, manda de navio para Santos, que descarrega nos tanques delas. Eu se quiser vou lá em Santos, pego esse o GLP, levo para Campo Grande – distante a mil quilômetros. E esse mesmo gás que está passando por baixo de nossas pernas em Campo Grande eu não posso tirar. A Petrobras não se interessa e não se oferece para participar da montagem.

Quanto poderia reduzir o custo do gás de cozinha no Estado?
O benefício é total tanto para o País que ainda está importando e com esse GLP produzido em Corumbá deixaria de ser importado, não seria necessário importar mais nada. Produzindo 520 mil toneladas de GLP por ano. O consumo na Região Centro-Oeste é de mais de 500 mil toneladas do GLP no ano.

Quanto tempo leva para isso tornar-se real?
Na hora que a Petrobras considerar a possibilidade do negócio, só na separadora que é o primeiro passo deve levar de um ano a um ano e meio. Para o projeto do gás químico inicia com a separadora, que divide os cinco gases do gás natural. Tira butano e propano que é o gás de botijão, o etano que é o gás para fazer plástico, depois a uréia e amônia, no qual Santa Catarina manda soja para a Europa em troca de uréia, que falta no Brasil. A uréia a Bunge tem interesse em produzir. O projeto vai beneficiar largamente Mato Grosso do Sul e o País que deixa de importar esses insumos como GLP e uréia.

Quanto representará a economia com a produção do GLP no Estado?
Hoje, a produção de 500 mil toneladas de GLP representa US$ 300 milhões que deixa de gastar com a importação.

Com relação à instalação das usinas de álcool na região do Pantanal. Qual sua opinião?
Eu ainda não analisei bem isso. Mas eu não acho que se deva incentivar uma ação dessa, pois o Pantanal é uma das poucas belezas naturais que temos, que é olhada não só por nós, mas pelo mundo inteiro. Eu não sei de que maneira essas empresas contribuirão com empregos sem degradar o ambiente.

A política economia tem colaborado para novos investimentos no Estado?
Poucos Estados no País tem essa possibilidade, nem o governo central não consegue ter recursos, a falta de recursos é total. O empresariado está fazendo alguma coisa e precisa fazer. Eu costumo dizer que a empresa no País, segundo o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], são quatro milhões de registradas no País. O governo central é um só, Estados são 27 e municípios são mais de cinco mil. Então o empresariado pode mais que a União, Estado e Município. E estes têm que ser incentivados e ter condições de gerar riquezas. Do jeito que estamos com essa quantia brutal de imposto nas costa de um só – o consumidor final.

A taxa básica de juros da economia brasileira – a Selic – em 19,5% ao ano – inibe o aumento de produção, reduz a geração de empregos e conseqüentemente a circulação de dinheiro no mercado. É possível falar de crescimento com juro elevado?
Não há condições. O empresariado brasileiro é um herói em suportar tanto para criar riquezas para um País em que o governo fica com 50% do potencial de trabalho. Estamos vendo um absurdo o Banco Central impor maiores juros do mundo que é o nosso. Fico chocado, que viajo um pouco e vejo o Chile cobrar 4% ou 5% ao ano, Argentina com toda a tragédia de dela cobrar 8% e a gente aí com 19,5% ao ano. Não há como cuidar de reverter essas situação. A exposição do Banco Central diz que é queda de juro, mas quanto de queda, de 0,25 ao ano ao mês e até quando.

Os escândalos de corrupção que assolam o país nos últimos meses deixam a classe empresarial em alerta para ter cautela ao investir?
Isso desanima um pouco, porque são tantos escândalos que mancham o País não só internamente, mas externamente – principalmente externamente. Inibi a população em geral, tanto o empresário quanto o empregado. Nunca tivemos escândalos desse porte, tão duradouro e tão explosivo como esses.

Qual sua avaliação do governo Lula?
Não dá para avaliar ele agora. Eu acho que as pesquisas estão mostrando o que o povo sente. O povo esta sentindo e demonstrando isso. O Lula tem hoje metade dos eleitores que tinha no início do governo.

O PT vai continuar governando Mato Grosso do Sul nos próximos anos?
É uma incógnita isso. Ninguém pode dizer nada, pois a confusão é tão grande que você não pode imaginar o que pode acontecer. O próximo ano é que vai dizer, qual a posição do Lula se é elegível ou não. Os escândalos estão há meses, mas estão apenas começando.