sábado, 19 de março de 2005

Laucídio fala sobre Expogrande e cartel dos frigoríficos

Gilmar Hernandes

Apesar do preço da arroba do boi inviabilizar a criação em Mato Grosso do Sul, o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Gado de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, está otimista com a solução para a crise na pecuária e aposta no sucesso da 67ª Expogrande, que começa no próximo dia 30. Em entrevista ao jornal eletrônico Midiamax, Laucídio destaca a importância da realização da feira para a economia de Mato Grosso do Sul e o avanço das negociações do movimento dos produtores rurais para reverter à situação dos baixos preços do gado.

Laucídio explica que além da briga travada com os frigoríficos, existem outros fatores que desfavorecem os pecuaristas, citando que os consumidores sul-mato-grossenses sentiram no bolso um aumento no preço da carne no ano passado, reajuste este, que não beneficiou nenhum produtor, que teve o valor pago pela arroba reduzido. Com a denúncia protocolada pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) contra a possível formação de cartel dos frigoríficos no Estado, Laucídio ressalta que os produtores do Estado vão continuar reduzindo a oferta de bovinos para o abate, até que os preços de toda a cadeia sejam restabelecidos.

A 67ª Expogrande começa no dia 30 de março, mas os leilões já tiveram início na última segunda-feira. Dentro desse cenário conturbado em que se encontra a pecuária nacional, qual a sua avaliação e expectativa para o evento neste ano?

Tivemos apenas um leilão de elite que foi um sucesso absoluto superando todas as nossas expectativas. E os leilões de Corte e Touro comerciais realizados estão mais ou menos naquilo que já esperávamos, com preços um pouco menores em média que no ano passado, refletindo esse momento que a pecuária está atravessando. Mas esses leilões tiveram liquidez absoluta, isso mostra que os nossos produtores enfrentam problemas de rentabilidade, mas continuam investindo e acreditando na atividade pecuária. Acreditando que seja passageira essa atual turbulência com os frigoríficos.

O que a Expogrande representa para a economia da Capital e também do Estado?

A Expogrande é a grande vitrine do Estado, principalmente para a pecuária. Mas serve também para todos os negócios do Estado. É uma grande confraternização, tanto do ponto de vista popular, quanto comercial. As grandes empresas instaladas no Estado estarão presentes e o número de áreas vendidas supera o ano passado. Estamos tranqüilo em relação ao tamanho da feira, que será uma grande exposição. Este ano estamos investindo no rodeio, da mais alta qualidade, vindo de São Paulo, muito superior aos que tradicionalmente a Acrissul trazia.

O Banco do Brasil vai oferecer financiamento sem limite de crédito aos produtores. O que representa esse crédito nesta atual conjuntura econômica da pecuária?

O crédito serve para que muitos produtores consigam adiar os compromissos. O produtor que não tem um desembolso imediato tenha tempo para programar seu fluxo de caixa, fazendo com que o número de negócios seja maior. Como neste ano, temos a volta do FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste) na exposição acreditamos que isso ajude bastante o sucesso comercial da exposição. Essa linha de crédito do FCO é bastante favorável.

Os negócios da feira este ano devem aumentar em relação à edição anterior?

Vai ser uma grande exposição com muito movimento. Os negócios a serem realizados devem encostar ao faturamento do ano passado [R$ 147 milhões]. Todas as estratégias realizadas este ano fazem parte de um quadro para ajudar a atingir essa meta. No ano passado chegamos a vender a saca de soja a R$ 50, agora está R$ 31. O preço do boi não tava muito bom no ano passado, mas ainda dava para relevar. O quadro de otimismo do ano passado ajudou muito. Estamos querendo através dessas ferramentas de financiamentos, dar oportunidade para que os negócios se realizem.

Na quarta-feira, dia 16, foi protocolada a denúncia contra a formação de cartel no Estado. Quanto tempo deve levar para surgir algum resultado?

Esta é a primeira vez que acompanho uma ação desse tipo, não sei dizer quanto tempo isso demora. A pecuária ela deveria trabalhar na forma em que todos os elos, como de fato, deveriam estar de interligados. Quer queria, quer não, dependemos dos frigoríficos e eles dependem da gente. Esse diálogo truncado, que aconteceu principalmente nesses últimos meses, não foi muito discutido os problemas com os supermercados, que hoje ganhou força na venda de carne, com altas margens de ganho. A cadeia está distribuindo mal a rentabilidade. Essa é a grande queixa do produtor. Porque ele é o maior investidor do produto e é o que tem trabalhado com rentabilidade muito próxima de zero ou até as vezes com prejuízo. A denuncia ao Cadê agora é fato concreto. Até então vínhamos trabalhando com os produtores para que aprovassem a iniciativa. Levamos o maior número possível de produtores para discutir.

Como fica o preço da carne para os consumidores, na relação entre frigoríficos e produtores?

Ao longo do ano passado, tanto o preço do produto exportado quanto do varejo, tiveram praticamente uma alta continua. O consumidor que realmente come a nossa carne estava cada vez pagando mais caro e os produtores estavam recebendo cada vez menos pelo produto. Criou-se aí uma gordura muito grande entre a porteira da fazenda e o consumidor. Então toda essa mobilização da classe produtora é para sejam restabelecidas as margens praticadas anteriormente.

Em relação ao boicote no abate de bovinos, o resultado do mês passado foi satisfatório?


Não podemos chamar de boicote, pois em uma cadeia que mexe com milhares de pessoas e temos nossos consumidores para atender, a idéia não é essa e sim uma redução na oferta. Essa redução foi mais significativa em Goiás, Minas Gerais e um pouco mais problemática em Mato Grosso do Sul. O Estado está passando um ano atípico, devido à seca muito forte, prejudicando a qualidade dos pastos e obrigando com que muitos pecuaristas desfaçam de seus animais, para aliviar a invernada. Acho que o número exato na redução de abates no Estado girou em torno de quase 17%, depois que o movimento foi deflagrado no dia 18 de fevereiro. Aqueles que têm condições de ofertar menos, assim estão fazendo.

Os pecuaristas vão continuar com a redução de abates em Mato Grosso do Sul?

Temos que achar um meio termo de diálogo dos frigoríficos. Houve reunião dos frigoríficos com o Ministério Público, que não deu em nada. Estamos aguardando e observando. O movimento continua, no dia 18, realizamos uma grande concentração em Cuiabá. Temos que considerar que estamos no auge da safra e os frigoríficos já estão conseguindo manipular os preços com uma redução de oferta, imagine se a oferta fosse normal. Temos que reduzir a oferta dentro das possibilidades de cada produtor, sendo que temos ainda dois meses pela frente de safra.

O preço pago pelos frigoríficos aos produtos acaba inviabilizando o trabalho no campo. Qual a média ideal de preço para que o produtor tenha melhor rentabilidade?

No ano passado tínhamos a expectativa de que trabalharíamos o preço do boi no segundo semestre em torno de R$ 70 a arroba. A arroba chegou a R$ 62 e começou a recuar. Olhando para os países do Mercosul, Argentina, Uruguai, que exportam para os mesmo lugares que a gente e tem população com poder aquisitivo semelhante com o do brasileiro, lá gira em torno de R$ 85 a arroba. Desta forma ficou muito longe da realidade econômica dos preços praticados aqui.

O governo tem contribuído para resolver o impasse dos produtores com os frigoríficos? Tanto o Estado quanto a União vêm tentando intermediar o impasse, não depende de uma ação de governo. Mas estão tentando uma interlocução entre ambas as partes. Na tentativa de encontrar uma solução.

A estiagem já prejudicou a safra agrícola de 20 municípios do Estado. Na pecuária qual é o reflexo?

A seca interfere na qualidade de pasto e com menos pasto numa época de final de temporada de cobertura, muito provavelmente o produtor vai tirar menos bezerros no ano seguinte. É difícil ter uma idéia de quanto será o prejuízo, mas as vacas mal alimentadas produzirão menos. Sendo assim passam a usar mais aditivos para engorda, mais ração no coxo, encarecendo todo o processo. Já estamos num momento ruim, sem rentabilidade e somos obrigados ainda a gastar mais para manter os animais no pasto.

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