sábado, 29 de outubro de 2005

Secretário denuncia contrabando de boi do Paraguai para o Estado

Gilmar Hernandes

O contrabando de bovinos do Paraguai é uma das ameaças para garantir o status de área livre de aftosa com vacinação alcançado por Mato Grosso do Sul, segundo denúncia feita pelo secretário estadual de Produção e do Turismo, Dagoberto Nogueira Filho, em entrevista exclusiva ao Midiamax. Ele destaca que tem muitos “políticos” buscando boi no país vizinho para que sejam abatidos no Estado e, por causa dessas pessoas que agem de má fé, a economia do Estado e do País é colocada em risco.

Dagoberto defende uma pena mais severa para esse tipo de produtor, que vai desde o fechamento da indústria frigorífica que faz o abate até a prisão do dono do frigorífico e do produtor. “A propriedade tem de servir para a reforma agrária, porque ele não pode ser produtor. Esse tipo de gente não interessa para Mato Grosso do Sul e nem para o País”, disse.

O secretário revelou ainda que acredita que dentro de 30 dias todos esses transtornos causados aos produtores pela descoberta da febre aftosa em bovinos dos municípios de Japorã e Eldorado sejam sanados, já que a doença está sob controle e todo o trabalho sanitário está sendo realizado como mandam as normas internacionais. Ele ressalta que esse momento vai mostrar para os empresários de outros Estados, principalmente aos de São Paulo, a importância de se instalar indústria frigorífica em Mato Grosso do Sul; ele acrescenta ainda que em São Paulo as empresas tiveram que dar férias coletivas aos trabalhadores, depois que ficaram sem produto.

Dagoberto disse ainda que deixa a secretaria no dia 15 de dezembro, mas que ainda não tem nenhum nome definido para ocupar a pasta. O único projeto político comentado por ele, as eleições em 2006, o secretário explicou que independentemente da possibilidade do PDT apoiar o ex-prefeito André Puccinelli para o governo, não irá abrir mão de apoiar o governador Zeca do PT para o Senado.

Esta crise na pecuária, em um ano complicado na agricultura, demonstra que 2006 será um ano difícil para a economia do Estado?

Esse ano já está finalizando de forma difícil já que no ano passado foi muito ruim e agora estamos com algumas dificuldades em função do tempo [clima] e da dolarização. O agronegócio, nesses últimos dois anos, não vem tendo uma condição muito boa. Eu tinha uma preocupação muito grande em diminuir a área plantada e os investimentos. Pelos resultados que estamos tendo – até o dia da descoberta do foco de febre aftosa [10 de outubro] – passei até a ficar otimista, pois não está diminuindo a área de soja, de algodão, apresentando resultados efetivos. A gente percebia até na indústria do agronegócio um certo crescimento. Logicamente com essa febre aftosa muda um pouquinho a estória.

O que muda com a descoberta dos focos de aftosa em Mato Grosso do Sul?

A aftosa veio em um momento muito ‘esquisito’ para nós, pois estamos atingindo uma relação muito boa do Iagro [Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal] com o produtor; no momento onde anunciamos que íamos tirar uma das vacinações [da campanha contra febre aftosa], que temos três vacinações – fevereiro, maio e novembro – íamos tirar a de maio é ficar com a de fevereiro e novembro, isso representaria uma economia de R$ 25 milhões para os bolsos dos produtores. A gente sinalizava para o mercado externo que Mato Grosso do Sul ficaria livre da febre aftosa sem vacinação. Fizemos vários diagnósticos desde 2000 para cá, de ano a ano, principalmente na fronteira que não tinha vírus. Isso ficou constatado e documentado, e, no entanto, esse vírus ingressou no Brasil. O foco inicial era em Japorã e depois chegou através de um caminhão até o município de Eldorado, na fazenda Vezozzo, e com isso criou todo esse problema prejudicando demais o Estado. Quando teve esse surgimento as pessoas mais otimistas achavam que iríamos demorar pelo menos uns 90 dias para a gente retomar as negociações. Mas a gente teve muita sorte. Tenho o diretor-presidente do Iagro, o João Cavalléro, pessoa especializada, extremamente competente, muito bem relacionada, tanto no mercado interno quanto externo, ele foi do Ministério da Agricultura, secretário nacional de Defesa e ele é uma pessoa que me ajudou demais, cumpriu o papel técnico e a gente cumprindo o papel político, principalmente com o apoio que o governador nos deu. Com isso uma semana depois eu já tinha trazido o ministro [Roberto Rodrigues] aqui no Estado, que veio verificar as ações que estávamos fazendo. O secretário Nacional de Defesa Sanitária [Gabriel Maciel] viu as ações, promoveu uma reunião em Brasília com todos os secretários fizemos um acordo e aí era para o governo federal ter legislado e não legislou, preferiu acatar um acordo antes feito com os secretários e aí fizemos aquele acordo como foi na segunda-feira ou na terça-feira. Aí saiu no Jornal Nacional ‘mais três focos no Mato Grosso do Sul’ o que demonstrou que estamos com descontrole; na realidade não eram mais três focos, e sim, resultado daquele que a gente tinha mandado. Só que o Ministério demorou em revelar o resultado, tínhamos o resultado de um só, que era da fazenda Vezozzo e saiu das outras fazendas que tínhamos mandado. Tanto é que os focos até hoje são os mesmos, que é em Japorã no assentamento e os focos de Eldorado que não mudaram, são as mesmas propriedades, a não ser as vizinhas que estamos abatendo o gado.

Estão confirmados apenas os 11 focos?

São onze focos, mas todos eles vizinhos. Dentro do mesmo raio de 25 quilômetros e são os mesmo lugares, não foi para outros lugares, não andou. São fazendas vizinhas. Tanto é que estamos abatendo sem esperar sair o resultado, pois o Ministério demora aí 10 a 15 dias e às vezes onde tinha um animal passa a ter 30 animais infectados. Então a gente está abatendo sem esperar o resultado. O que é mais importante, depois disso, os Estados fecharam o mercado para nós e começamos a reabrir as negociações e quando a gente reabriu tudo de novo estoura a suspeita de foco no Paraná. O que é pior, o Paraná nos acusa dizendo que os animais eram provenientes de propriedades de Mato Grosso do Sul, o que não é verdade, pois a propriedade está dentro do raio, mas nem foco sequer ela tem. E da propriedade foi mandado este gado em fevereiro para uma outra fazenda dela que nem foco tinha também. E ele mandou esse gado para uma fazenda que tem no Paraná e ficou lá, obedeceu a quarentena, depois foi para o leilão, tanto é que entregou para a Comissão de Agricultura da Câmara Federal através do presidente, o deputado federal Ronaldo Caiado, os documentos e o relatório dele dizendo todas as que pessoas compraram animais, nenhum deles tinham animal infectado e pediu que esses proprietários que compraram mandassem telegrama para ele avisando que não era dele o foco. Nós que comunicamos o Paraná e São Paulo das ultimas transações das saídas de animais para esses Estados para as pessoas poderem checar. São Paulo checou todos, tanto é que quando estava checando saiu que São Paulo estivesse com um foco – não tinha foco – só estava fazendo a verificação que tínhamos vendido para aquele Estado, que não teve nenhum indício, nenhuma manifestação de qualquer animal em São Paulo. No Paraná, agora eles pararam de nos acusar, em função dessas provas que a propriedade fez e ameaçou entrar na justiça. O Paraná tem o mesmo problema que a gente, faz divisa com o Paraguai. Sabemos que existem muitos focos no Paraguai, e por causa disto hoje eles estão com uma postura. Quando estourou no Paraná dificultou novamente as negociações. Mas, por conta desta importância que está tendo, tanto essa comissão na Câmara Federal, o próprio Ministério, as pessoas estão percebendo que estamos mantendo a situação sob controle, pois não saiu nada desse raio de 25 quilômetros e não se estendeu para nenhum outro foco, então isso para nós está sendo muito forte, porque se sair de raio é normal que aconteça isso – estamos com 11 [focos de aftosa] só. Lá no Rio Grande do Sul teve mil e poucos.

Tem mais alguma suspeita?

Não. Está tudo sob controle. Hoje, qualquer vaca que manca ou que baba eles [pecuaristas] já estão nos comunicando. É importante, pois demonstra que as pessoas estão tendo consciência e que o governo vai indenizar, porque se não as pessoas querem esconder, partem para o abate individual e pode estar alastrando isso. É importante a pessoa acreditar que o Estado vai indenizar para comunicar para a gente tomar as medidas que precisam ser tomadas. A partir do momento que você conhece as medidas, as barreiras, você controla. Quando não conhece pode trazer um problema sério no Estado. Isso está muito claro para o Ministério, para todas as pessoas e demais secretários que vieram ver o nosso trabalho. São Paulo e Paraná veio e viu que as barreiras são muito bem montadas, tanto as fixas quanto as móveis. Nós optamos pelo abate porque você retoma a condição de exportador com seis meses, se você faz a opção pela cura poderíamos demorar até dois anos para retomar o abate. E nós, como somos um estado que depende das exportações optamos pela alternativa mais rápida. Eu tenho a impressão que nos próximos trinta dias nós normalizamos toda a situação do Estado.

Para todo o mercado interno...?

Sim, com exceção dos cinco municípios, que estes vão ficar por seis meses. Para o mercado interno vou esperar terminar todos os abates e com trinta dias a gente vai ver se não tem nenhum novo foco; não tendo, a gente vai desarmar as barreiras e ficar em observação. Aí a gente põe a sentinela, que é um bezerro que não foi vacinado, colocamos ele na propriedade onde tinha foco para saber se ele pega.

O que de concreto o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento liberou para comercialização?

O ministério liberou praticamente tudo, ficando muito suíno gordo, que deve ser liberado amanhã. Estamos querendo criar algum mecanismo para lacrar os caminhões para que possa ter a certeza de que vai direto para o frigorífico. Produzimos em torno de 15 mil suínos semanais e temos capacidade para abater apenas 3 mil animais. Então isso é o mais importante para nós, pois não temos capacidade de absorver esses 12 mil animais que estamos produzindo aqui, que seria o excesso. Então seria o estado de São Paulo que iria absorver, por isso é importante resolver logo, pois o boi pode ficar no pasto e pode demorar um pouco mais e o suíno não, toda semana tem que sair.

A crise na pecuária pode afetar a vinda dos novos frigoríficos para o Estado?

Já normalizou a situação e isso não vai afetar em nada os novos frigoríficos. Vamos tentar reabrir o Amambai, Ponta Porã, Rio Verde. Há um interesse muito grande e esse momento vai mostrar para os empresários de outros Estados, principalmente São Paulo, a importância de estabelecer aqui, porque ficaram sem o produto lá e tiveram que dar férias coletivas porque não tinham o produto nosso. É importante que ele venham para Mato Grosso do Sul gerem emprego. Até o fim do ano vamos inaugurar mais um frigorífico. Se os Estados não podiam mais continuar restringindo a carne de Mato Grosso do Sul, pois eles já estavam ficando desabastecidos. Ia começar a faltar carne.

Quando o fundo emergencial começa a ser pago aos produtores no Estado?

Pretendemos iniciar o pagamento na próxima semana até porque eu acho muito importante a gente dar uma resposta rápida, indenizando rapidamente, na segunda-feira passada [24] tive reunião com as pessoas que compõe o Fundo para a gente discutir as indenizações o mais rápido possível. Estamos dependendo R$16 milhões do governo federal, vamos indenizar de acordo com o valor de mercado.

Na investigação feita pelo DOF (Departamento de Operações da Fronteira) o relatório apontou indícios de que a doença tenha vindo do Paraguai. Para conter este problema, o senhor acredita que a presença do Exército na fronteira, por exemplo, pode impedir esta situação?

Esse relatório na verdade não trouxe nenhuma novidade, nós já sabíamos desde o início que o foco em Japorã, até porque já tínhamos constatado que em Mato Grosso do Sul não tinha nenhuma possibilidade de ter o vírus [aftosa] porque mais de 99% do nosso rebanho é vacinado. Segundo, há cinco anos consecutivos nós estamos fazendo em toda aquela fronteira, recolhendo inclusive material e mandando até para países exportadores diagnósticos desses animais, constatando que Mato Grosso do Sul está sob controle e que só poderia pegar a infecção de animais vindos de outro local. Enquanto o Brasil não tiver um entendimento com o Paraguai até porque existem focos de aftosa lá, mas quem trouxe para cá foram os produtores brasileiros, produtores aqui do Estado – alguns produtores. Na sua maioria esmagadora é contra isso. Gostaria que tivesse uma pena muito apropriada para esses produtores, pois em função de meia dúzia prejudicou milhares e milhares de produtores que estão fazendo um trabalho sério. Essa meia dúzia coloca não só em risco o Estado, mas todo o País. Temos que ter uma pena mais rígida com essas pessoas, não é só condenar por contrabando e sim pegar a propriedade desses produtores, quem estão fazendo esse trabalho com muita freqüência, inclusive de políticos. Tem muitos políticos que está buscando boi no Paraguai para ser abatido aqui no Estado, sem que haja um corredor sanitário. Tem que fechar esse frigorífico, prender o dono do frigorífico, processar o produtor e não que nunca mais tenha ligação com os produtores. A propriedade tem de servir para a reforma agrária, porque ele não pode ser produtor. Esse tipo de gente não interessa para Mato Grosso do Sul e nem para o País.

A ação conjunta na América do Sul para combater a febre aftosa deve sair do papel?

Olha, ela tem que sair até porque enquanto não acabarmos com a aftosa lá, não vamos acabar com a doença aqui. Tem que ser feito um trabalho de conscientização em conjunto Brasil-Paraguai-Bolívia, países que compõe o Mercosul. Fazer como exemplo dos americanos, só conseguiu erradicar a febre aftosa depois que fizeram esse tipo de trabalho junto com o Canadá e principalmente ao México. E aí ficaram livres de aftosa sem vacinação. E isso traz uma economia muito grande para o País. O que estamos gastando com vacina e os transtornos com esses focos era muito mais barato se a gente estivesse fazendo essa ação conjunta.

Uma missão americana está vindo para o Brasil e vai passar pelo Estado para inspecionar dois frigoríficos com o objetivo de aumentar a abertura dos negócios com os Estados Unidos, que atualmente só importam de uma indústria do Estado. O credenciamento dessas duas empresas, em meio à crise da aftosa, vai favorecer a suspensão dos embargos internacionais com mais facilidade?

Eles [americanos] viram que não era necessário fechar as compras do país como um todo, bastaria fechar dos cinco municípios atingidos pela aftosa até que nós mantivéssemos o controle. A Rússia fecha para o Brasil e mantém aberto o Paraguai. O interesse é muito mais comercial do que técnico. Estamos seguindo as normas da União Européia para que daqui a seis meses seja possível a retomada das exportações.

A última etapa da campanha de vacinação contra a febre aftosa é agora em novembro. Haverá algum trabalho em especial?

A vacinação vai ser realizada normalmente, até porque as coisas estão sob controle e a vacinação vai seguir o seu período normal.

E para o próximo ano permanece a redução para apenas duas etapas?

Para o próximo ano permanece aquilo que havíamos divulgado – duas etapas de vacinação – porque o problema não está aqui em Mato Grosso do Sul. O produtor sul-mato-grossense está vacinando e tenho a confiança no setor produtivo em Mato Grosso do Sul e vamos manter as duas vacinações que estavam previstas antes da descoberta desses focos.

Os leilões de gado foram cancelados em Mato Grosso do Sul em conseqüência do foco de aftosa no Estado?

Não. Para liberar os leilões agora terá eu passar pela direção do Iagro, porque queremos criar alguma resistência para os leilões naquela região [Eldorado] do foco, pois é perigoso que haja trânsito de animais. Antes quem autorizava os leilões era o representante do Iagro comum e agora é só com o diretor-presidente do Iagro [João Cavalléro].

O momento agora é de se preocupar mais com a rastreabilidade dos animais no Estado?

Eu acho. Isso também vai servir de exemplo para todos nós que esses animais fossem rastreados era fácil saber a sua origem. Como estamos muito longe do ideal da rastreabilidade, então isso tem que servir de exemplo para os demais produtores que tem de rastrear os seus animais, que é o ponto hoje para o mercado internacional.

As usinas de álcool devem ser aprovadas para instalação no Estado?

Eu acho que mais do que nunca agora demonstra que temos que diversificar o nosso campo. Não podemos nessa conjuntura do boi e até soja, pois quando tem problema como esse arrebenta com a economia do Estado, com municípios e todo o setor produtivo, com o comércio, indústria, pois não circula dinheiro. Então está aí a prova e a importância de diversificar a nossa atividade econômica e principalmente a cana-de-açúcar, do álcool e do biodiesel que são as atividades que mais estão prosperando. A cana não tem problemas climáticos, preserva o solo, tem papel social importantíssimo, pois gera muitos empregos e uma arrecadação para o Estado.

O senhor vai deixar a secretaria estadual de Produção para disputar a eleição no ano que vem?


Devo sair daqui da secretaria no dia 15 de dezembro. Espero que até lá os problemas estejam todos resolvidos. O nosso presidente do partido [PDT] já conversou com o governador Zeca do PT e no dia 15 de dezembro estou deixando a secretaria, gostaria de deixar antes disso. Só não saio agora porque quero dar a minha contribuição para resolver esse problema que afeta o Estado e o País.

E já tem algum nome para indicar para ocupar a pasta?

Vou discutir quando estiver chegando próxima a data estabelecida.

O que o senhor acha do PDT dar apoio ao PMDB nas próximas eleições?

Eu não sei ainda como que fica. Só vamos decidir isso no ano que vem. Hoje nós temos o maior número de prefeitos, número de vereadores, deputados. Os prefeitos precisam que essa decisão seja bastante consciente. Independentemente que venham a apoiar o André [Puccinelli] para o governo, não vamos abrir mão de apoiar Zeca para o Senado.

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